Movimento Saúde

A psicóloga clínica e organizacional e professora, Ana Becker, faz um alerta importante sobre a forma como a ansiedade vem sendo enfrentada no Brasil. Para ela, o problema é grave e crescente, mas as soluções frequentemente buscadas pela população não são, necessariamente, as mais adequadas.
“O Brasil é o país com maior proporção de pessoas ansiosas no mundo. Isso foi constatado por uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, afirma. Os dados, segundo ela, revelam mais do que estatísticas preocupantes. “Hoje, 16,6% da população brasileira faz uso de medicamentos. Apenas 5% aderem à psicoterapia. Isso mostra o adoecimento da saúde mental e a busca por soluções rápidas, que não exigem envolvimento pessoal e comprometimento com o processo de mudança.”
Para Ana Becker, há uma cultura de imediatismo que influencia diretamente na forma como as pessoas lidam com o sofrimento psíquico. “O medicamento, muitas vezes, é necessário. Mas ele trata o sintoma, não a causa. E essa diferença precisa ser compreendida com muita clareza.”
A psicóloga explica que o tratamento da ansiedade exige um processo de autoconhecimento e reflexão contínua. “É preciso entender o que está acontecendo na minha vida que está fazendo com que eu me comporte dessa maneira. Quais são os gatilhos? Quais situações estão me deixando ansiosa?”
Ela destaca que este processo “nem sempre é curto” e exige comprometimento pessoal. “O que precisamos fazer é nos conhecer, compreender esses gatilhos e, a partir disso, promover mudanças reais no comportamento. Só assim será possível alcançar uma vida mais leve e saudável.”
A fala de Ana Becker joga luz sobre um ponto muitas vezes negligenciado nos debates públicos sobre saúde mental: a complexidade do sofrimento psíquico e a necessidade de abordagens mais profundas, que ultrapassem a medicalização como única resposta. Em um cenário marcado por pressões constantes e alta demanda emocional, sua reflexão convida à construção de soluções mais conscientes, fundamentadas no entendimento de que saúde mental não se alcança com atalhos — mas com tempo, cuidado e responsabilidade consigo mesmo.

Ana Becker é psicóloga clínica e organizacional, com experiência em atendimentos individuais e em grupos. É mestre em Sociedade e Desenvolvimento, com foco em temas ligados à saúde mental, comportamento humano e processos sociais contemporâneos. Atua como professora em cursos superiores, técnicos e profissionalizantes, contribuindo para a formação de novos profissionais na área da saúde e do desenvolvimento humano. Com uma abordagem centrada no autoconhecimento e no compromisso com a mudança, Ana defende que o cuidado com a saúde emocional deve ser contínuo, profundo e personalizado — e não baseado apenas em soluções imediatas.