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Casos de hepatite em crianças pode ter relação com o coronavírus

Publicado em 03/05/2022 às 19:29 por Editoria Movimento Saúde

Quase 200 casos de hepatite aguda já foram relatados em crianças em todo o mundo nos últimos meses. O surto provocou a morte de pelo menos uma criança e 17 transplantes de fígado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A relação do surto com o coronavírus também não está descartada. Até agora, pelo menos 12 países já registraram casos da doença em crianças.  

Embora a causa ainda não tenha sido determinada, a hipótese mais forte é que a doença esteja sendo causada por um tipo de adenovírus que provoca uma série de condições, incluindo o resfriado comum, pneumonia , diarreia e conjuntivite.

Autoridades de saúde da União Europeia, Estados Unidos e Reino Unido estão investigando o surto. É muito raro observar casos graves de hepatite em crianças, afirma William Irving, professor de virologia da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. Ele diz que, em média, os relatos de hepatite em crianças no país europeu costumam estar na casa de um dígito por ano. Só nos primeiros quatro meses de 2022, o Reino Unido já conta mais de cem.

"Acho absolutamente extraordinário", afirma Irving. "Não vi nada assim durante minha prática clínica. É preocupante porque não sabemos o que está acontecendo."

SINTOMAS

Um sintoma clássico da hepatite é a icterícia, ou amarelamento da pele ou do branco dos olhos, que foi observado em muitas das crianças afetadas, de acordo com a OMS.

Muitas também apresentaram sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e vômitos. A maioria dos casos não teve febre, segundo a agência de saúde da ONU.

Outros sintomas da hepatite podem incluir fadiga, perda de apetite, urina escura, fezes de cor clara e dor nas articulações. Esses sintomas, no entanto, não foram muito relatados.

Onde foram registrados os casos?

O surto foi relatado pela primeira vez por autoridades de saúde do Reino Unido no início de abril, com os primeiros casos datando de janeiro. Em 19 de abril, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças anunciou que casos também foram registrados na Espanha, Dinamarca, Holanda e Irlanda. Teve-se notícias ainda de casos no estado do Alabama, nos Estados Unidos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos 169 casos foram detectados em 12 países até o último domingo (23/04). Pelo menos uma criança morreu, enquanto 17 precisaram de transplante de fígado.

A grande maioria dos casos reportados até agora pela OMS foi registrada no Reino Unido (114), e o restante, em outros países europeus, além de EUA e Israel.

O Instituto Robert Koch (RKI), agência governamental da Alemanha para controle e prevenção de doenças, informou nesta terça-feira que um caso de hepatite também foi detectado no país, embora ainda não esteja na contagem da OMS. Canadá e Japão também anunciaram casos da doença nos últimos dias.

O que é a doença?

Os casos relatados pela OMS atingem crianças de 1 mês a 16 anos de idade, sendo que muitos têm menos de 5 anos. As crianças não estão testando positivo para os vírus típicos da hepatite – A, B, C, D ou E –, um cenário que Alastair Sutcliffe, professor de pediatria geral da University College de Londres, chama de "muito incomum".

As crianças afetadas estão apresentando hepatite aguda, que significa inflamação do fígado. Em muitos casos foram relatados sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, diarreia e vômito. A maioria não apresentou febre.

A hepatite pode ter muitas causas. A doença pode resultar de infecções causadas por vírus, toxinas no álcool ou obesidade, por exemplo. Irving, da Universidade de Nottingham, afirma que, embora a causa desse surto específico ainda não esteja clara, acredita-se amplamente que possa estar relacionado a um adenovírus.

Adenovírus

Médicos descobriram que algumas das crianças diagnosticadas com a doença misteriosa testaram positivo para um tipo específico de infecção por adenovírus: o adenovírus 41. Irving afirma que o adenovírus 41 não foi detectado em todos os casos de hepatite em crianças, tampouco foi procurado em todos os casos, mas tem sido observado em casos suficientes para ser potencialmente mais do que uma coincidência.

O adenovírus 41 é uma infecção comum em crianças pequenas, que normalmente causa sintomas como diarreia e vômito, diz Irving, mas não é conhecido por estar associado à hepatite.

Segundo o especialista, pode estar havendo algo incomum com esse adenovírus específico, ou ele pode estar interagindo com outro fator que esteja causando a hepatite. Ou mesmo pode se tratar de um novo agente infeccioso, ou uma toxina, ou algum tipo de fator ambiental, ou uma combinação de todas essas possibilidades, afirma Irving.

E a covid-19?

Uma relação com o coronavírus também não está descartada, afirma o professor de virologia. É possível que algumas dessas crianças com hepatite tenham tido covid-19, o que afetou seu sistema imunológico, dificultando o combate a vírus típicos da infância.

Segundo a OMS, o coronavírus Sars-Cov-2 foi detectado em 20 crianças com hepatite, mas nem todas foram testadas. Além disso, 19 foram detectadas com uma coinfecção por Sars-Cov-2 e adenovírus.

Na Escócia, por exemplo, há uma variedade de resultados de testes disponíveis entre os 13 casos de hepatite em crianças registrados no país. Desses 13, três deram positivo para infecção por covid-19, cinco testaram negativo e dois contraíram o vírus nos últimos três meses. Apenas 11 dos 13 casos foram testados para o adenovírus, com cinco deles resultando positivo.

Se a infecção por covid-19 não for a raiz do problema, o efeito da pandemia na saúde das crianças pode ter desempenhado um papel, afirma Irving.

"Você tem uma coorte de crianças que foram amplamente protegidas, as crianças muito pequenas. Portanto, elas não foram expostas à variedade de infecções por vírus a que normalmente seriam expostas", explica o especialista.

"Vimos neste inverno [no Hemisfério Norte] níveis muito altos de toda uma gama de infecções por vírus em crianças, incluindo adenovírus", acrescenta. "Talvez tenha a ver com o fato de que elas tiveram dois anos de relativa esterilidade em que não estavam sendo expostas e, de repente, elas têm uma série de infecções, incluindo adenovírus, com as quais elas não estão lidando da maneira normal."

Uma coisa é clara: a hepatite não está sendo causada pelas vacinas contra a covid-19, destaca Sutcliffe, da University College de Londres, uma vez que as crianças que contraíram a doença não haviam sido vacinadas.

É motivo para pânico?

Sutcliffe pede calma aos pais. "Meu entendimento é que muitas [crianças com hepatite] melhoraram, o que é o normal. Se reduzirmos [o surto] a um risco de insuficiência hepática, o risco é muito pequeno. Então, penso que não devemos exagerar", diz o especialista.

Irving, por sua vez, afirma que espera ver muitos outros casos relatados nas próximas semanas, à medida que as autoridades de saúde tomarem conhecimento e começarem a rastrear o surto. O fato de o Reino Unido ter detectado tantos casos até agora se deve provavelmente aos rigorosos sistemas de relatos de saúde do país, afirma o especialista.

"Eu não entendo o Alabama", diz Irving. "Quero dizer, por que você teria nove casos em um estado e nenhum caso nos outros 49 estados? Não faz sentido. Acho que deve ser uma função de vigilância. Acho que se está ocorrendo no Alabama, está ocorrendo em outros lugares. Eles apenas ainda não sabem disso."

Com informações: Brasil de Fato e Catraca Livre

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