Quarta-feira, 30 de abril de 2025 Login
Um levantamento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que as mortes maternas por complicações de hipertensão continuam sendo um grave problema de saúde pública no Brasil, apesar de totalmente preveníveis. O estudo analisou dados de 2012 a 2023 e apontou que a desigualdade social e o acesso desigual aos serviços de saúde são fatores determinantes para a permanência desses índices.
No período analisado, o número de mortes entre mulheres indígenas foi mais que o dobro do registrado entre mulheres brancas. Entre mulheres pretas, a taxa foi quase três vezes maior. Segundo os pesquisadores, não há justificativa biológica para essa diferença; o problema está relacionado à vulnerabilidade social, à dificuldade de acesso a serviços de saúde de qualidade e ao racismo estrutural no atendimento.
Entre 2012 e 2023, o Brasil registrou quase 21 mil mortes maternas durante a gravidez, parto ou puerpério. Desse total, 18% foram causadas por hipertensão, o equivalente a 3.721 casos. A taxa de mortalidade materna geral do país ficou em 61,8 mortes a cada 100 mil nascimentos — abaixo do limite de 70 estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda muito distante dos índices de países desenvolvidos, que variam entre 2 e 5 mortes.
Quando analisadas apenas as mortes provocadas por hipertensão, a taxa média foi de 11,01 a cada 100 mil nascimentos. O dado apresentou estabilidade ao longo da última década, com exceção de 2023, quando caiu para 8,73. Apesar da leve queda, o número ainda é tratado com cautela pelos especialistas.
Outro dado de destaque ocorreu em 2022, quando a taxa de óbitos por hipertensão materna chegou a 11,94. O estudo aponta a pandemia de Covid-19 como fator responsável por esse pico, devido à desorganização dos serviços de saúde nos anos anteriores, que comprometeu a assistência obstétrica e o acompanhamento pré-natal.
A pesquisa também evidenciou que o risco aumenta com a idade. Mulheres com mais de 40 anos apresentaram uma taxa de mortalidade materna por hipertensão de 31 a cada 100 mil nascimentos, quase três vezes a média nacional. Isso porque, nessa faixa etária, há maior probabilidade de gestação associada a comorbidades como hipertensão crônica e diabetes.
Apesar de evitáveis, essas mortes persistem por falhas no acesso a medicamentos básicos e na identificação precoce dos fatores de risco. Dois medicamentos acessíveis — carbonato de cálcio e ácido acetilsalicílico (AAS) — podem reduzir em até 40% o risco de complicações, desde que administrados antes da 16ª semana de gestação. Em fevereiro, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de cálcio para todas as gestantes e o AAS para casos de maior risco.
Além disso, profissionais de saúde precisam estar capacitados para reconhecer rapidamente os sinais de alerta, como dores de cabeça persistentes, inchaço anormal, náuseas, alterações na visão e dores no estômago, sintomas que podem preceder quadros graves de hipertensão na gestação.
O sulfato de magnésio continua sendo o principal medicamento para evitar convulsões em gestantes hipertensas, situação que, quando ocorre, eleva o risco de morte para quase 50%.
O estudo também alerta para o possível sub-registro de óbitos ligados à hipertensão. Isso porque, no período analisado, 2,4 mil mulheres morreram de hemorragia — condição frequentemente associada à hipertensão gestacional, que provoca a destruição de plaquetas e compromete a coagulação sanguínea.
O cenário reforça a necessidade de ampliar o acesso a um pré-natal de qualidade, com início precoce e monitoramento constante, principalmente para gestantes de áreas mais vulneráveis e populações historicamente excluídas do sistema de saúde.
Acompanhamento médico
Cuidado cardiovascular deve integrar o acompanhamento de pacientes com diabetes