Sexta-feira, 23 de maio de 2025 Login
Chega um momento na vida em que se esgotam os recursos para a manutenção de uma existência saudável. É assim com todos os seres vivos. Mas, no mundo animal, existe a opção de colocar um fim ao sofrimento. Quando chega ao extremo, em muitos casos, a única opção é a eutanásia.
É comum pensarmos no que isso representa para o dono do animal, em especial os animais domésticos, já considerados parte da família. É uma dor que atinge a todos. E raras vezes (ou nunca) paramos para pensar no impacto que a eutanásia representa para a saúde mental do veterinário.
Esse impacto é tema de um artigo, publicado pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), na revista da entidade.
Escrito por três médicos veterinários e uma psicóloga, o material usa como base um questionário online, aplicado a profissionais que realizam ou já realizaram eutanásia durante sua rotina clínica, para avaliar as prováveis implicações da prática na saúde mental, além de identificar lacunas sobre o tema na formação profissional.
Trazer esse debate é oportuno, já que estamos no Janeiro Branco, campanha que chama a atenção para o tema da saúde mental.
Despreparo para lidar com morte
A indicação da eutanásia é feita com base em avaliação minuciosa
Ele explica que a indicação da eutanásia é feita com base em avaliação minuciosa do quadro clínico do animal, tendo se esgotado todas as possibilidades de tratamento, mas ainda assim, é uma decisão difícil para o profissional. “O procedimento é indicado quando o animal se encontra extremamente debilitado pela evolução de uma doença, muitas vezes incurável, não tendo respondido positivamente a várias tentativas de tratamento, o que leva ao extremo sofrimento, de forma que essa seja a única solução”, esclarece. “Diante disso, resta ao médico veterinário conversar com os tutores, explicar a situação e sugerir a eutanásia”, pondera.
A decisão final é sempre do tutor, mas não tem como não se abater. “Para o veterinário é um momento difícil, por não ter conseguido curar ou promover uma vida com melhor qualidade. Constatar que o animal não reage clinicamente, chegando a esse extremo, me deixa triste”, admite Nestor.
Acompanhar o procedimento é uma opção dada aos tutores, e cada um reage de forma mais ou menos sofrida.
Experiência marcante
Nestor e Chica, sua Border Collie de estimação
Embora a tristeza pela morte faça parte da profissão, Nestor alega que, com o tempo, o veterinário aprende a suportar. “Temos que ter o cuidado para não absorver tudo, porque isso pode acabar interferindo muito nos próximos atendimentos e procedimentos necessários. A tristeza bate, mas temos que ser fortes, até para evitar de entrar em quadro de depressão, por se sentir incapaz diante da fatalidade”, diz o médico, formado há 12 anos. “Com o passar do tempo, a gente vai desenvolvendo um quadro de frieza, por assim dizer, que é esperado que aconteça, mas a tristeza é inevitável diante do estado de sofrimento do animal, do estado emocional do tutor, e não podemos absorver”, reitera.
Abordagem superficial
78% dos veterinários afirmam não ser abordada de forma ampla a prática da eutanásia
Os números tornam evidente o despreparo dos profissionais médicos-veterinários para lidar com a morte de seus pacientes, sendo inegável que a prática da eutanásia animal oferece riscos à sua saúde mental.
Na avaliação de Nestor Lorca dos Santos Garnés, durante a formação, talvez falte uma disciplina que ajude o futuro profissional a trabalhar essas emoções. “Na medicina veterinária o tema eutanásia é abordado de forma superficial, diferente do que o profissional vai enfrentar na realidade, quando se forma e vai encarar o dia a dia a campo e viver a situação, que causa realmente um impacto. O que nos é passado é a missão de salvar, sem se ater ao fato de que teremos de enfrentar com muita frequência a eutanásia na realidade”, aponta.
Uma das conclusões da pesquisa é a necessidade de traçar medidas que minimizem os impactos negativos causados pela eutanásia, que é uma prática necessária e ao mesmo tempo desgastante à saúde mental.
Fotos: arquivo pessoal Dr. Nestor Lorca/divulgação
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